Learn to fly

Há 7 anos, eu embarquei em um avião a primeira vez. Hoje, embarco outra vez.

Naquela época, eu estava em meio a um mitote, que eu falei o que é AQUI, então, não tinha a consciência do que estava fazendo ou para que estava fazendo. Sabia que queria fugir, mas não sabia exatamente do que. Hoje eu sei.

Eu queria fugir do primeiro Burnout que tive, da vida que estava levando, do relacionamento abusivo, mas, estava tão exausta que ainda não conseguia ver o que tinha que fazer. Fui morar em Porto Alegre, em um pensionato, havia um dinheiro reservado.

Eu já tinha um bacharelado, pensei em mestrado, tentei um concurso do IBGE, mas acabei indo trabalhar em imobiliária, pois, do jeito que estava, eu não podia continuar. Só fui indo ladeira abaixo: comia pizza de jantar, para economizar, pois era o que ganhava da imobiliária, tentava não gastar todo o dinheiro, que eu já não tinha. Tinha crises fortíssimas de ansiedade e não reconhecia minha personalidade. Pouco mais de um ano depois de ter chegado, percebendo o quando eu estava sobrecarregada, decidi voltar para casa.

Não foi fácil retornar, precisei ter vergonha. Minha vida estava muito fora de eixo: eu acima do peso, sem estudar, trabalhar ou ter hobbies que eu gostasse, vendendo o almoço para ter a janta. Sem estrutura física, psicológica e financeira. Mas voltei, me reestabilizei. Voltei a estudar, comecei a treinar, trabalhar e ir para a arteterapia. Me reergui, pedi a Deus para me guiar, voltei a me conectar com o Pai.

Ele sempre me ouve, então me orientou a buscar o caminho de dar aula. Eu, mesmo relutante, fiz outra graduação para ter o diploma licenciado. Comecei a lecionar, para produzir, confesso que foi meio forçado. Eu não tinha experiência nenhuma, mas busquei me aprimorar e entregar meu melhor sempre. Eu aprendi a gostar de estar dentro de sala de aula. Até então, eu trabalhava como professora substituta. Em 2020, eu cheguei a ser contratada por uma escola, mas, alguns meses depois, tivemos a pandemia, tudo fechou e a vida mais uma vez, mudou: tive covid, meu tio faleceu e, mais uma vez, crises de ansiedade.

Eu queria poder sair, fugir, ir à praia, conhecer um amor verdadeiro, viver a vida... Afinal, foi para isso que ela foi feita.

Mas, o que aconteceu foi: eu vi meus avós adoecerem. E, talvez, na tentativa de ignorar isso, eu acabei assumindo muito mais coisas do que dava conta, em 2021. Comecei o ano me vestindo muito mal, tinha bastante cobrança, tentava entregar meu melhor, bem feito, como sempre, mas eu estava trabalhando de manhã, de tarde, à noite, aos finais de semana e de madrugada (para tentar “dar conta de tudo”). Então, eu atrasava prazos e chegava atrasada na escola.

Meu melhor foi bastante limitado, pois eu não tinha vida: sobrevivia para o trabalho e o treino. Na semana do pagamento, pagava o que precisava, guardava uma boa parte e ia comprar roupas, acessórios e maquiagens com o restante. Na tentativa de me encontrar.

Passei por consultoria de estilo, que me ajudou a trazer mais consciência de quem eu sou. Já estava em psicoterapia e isso só me ajudou.


Em algum momento, percebi que não era para os Estados Unidos, o primeiro lugar fora do Brasil que eu queria ir. Deus tocou meu coração: era o Peru.


Em outubro, minha avó faleceu, mas eu continuava sobrecarregada e realmente o meu mundo caiu. Resultado: fui mandada embora de algumas escolas e outras, como as de idiomas, eu decidi não continuar. Virei o ano me comprometendo a me cuidar, viver e me libertar.

Em janeiro de 2022 eu fui para Angra dos Reis e vivi o final de semana mais incrível da minha vida. Aquela água, aquela areia, as pessoas, aquele paraíso na Terra, o mar verde e calmo, a luz da lua cheia... Me fizeram voltar a enxergar. Fizeram eu me sentir viva, como há muito eu não fazia. Ali, eu voltei a me conectar verdadeiramente com Deus. Ali eu entendi: a vida foi feita para ser vivida.

Ao voltar para a Terra e para a vida normal, o mitote retornou mais uma vez. Para ajudar, em março, meu avô faleceu e, de novo, meu mundo se desfez.

Tentei resgatar as minhas forças, da forma que eu sabia, me reinventar, dar a melhor aula que podia, mas eu não tinha forças para “argumentar” com os absurdos que vivi dentro da sala de aula. Eu estava tentando desesperadamente manter os poucos pedaços do meu mundo, que restaram, no lugar. Isso me custou muito mais caro do que eu gostaria: não soube estar aberta a um relacionamento com um verdadeiro cavalheiro (achei que a minha vida estava muito bagunçada para ter alguém ao meu lado e que não era justo com ele, por mais que eu gostasse dele, por mais que eu o amasse eu nem sequer eu soube demonstrar); tive queda no nível de ferro no sangue; vivia cansada, exausta; não soube impor limites. Recuperei parte da confiança ao começar a praticar stiletto e fazer o tratamento necessário, mas acho que algumas marcas ficaram. 

Seguia não conseguindo dar uma “boa aula”, não consegui fazer meus alunos se interessarem a aprender inglês. É, falhei. Fui má pessoa e profissional, mesmo tentando ser justa com os outros e comigo. Acreditei que precisava ensinar a disciplina, mas como?, se não consegui ensiná-los a ter disciplina? 

Não consegui mostrar a eles o encanto e os benefícios que poderiam ter ao aprender aquilo, por mais que eu tentasse, por mais que eu me esforçasse, por mais que eu tentasse incentivar, não foi o suficiente. Talvez tenha sido um erro de interpretação semântica da minha parte: eu acreditava que estava ali para ENSINAR, que pressupõe uma relação com o APRENDER e o compromisso da outra parte. Mas eu acabei estando ali apenas por estar. E posso dizer que isso me educou, já que EDUCAR, pressupõe moldar: decidi que não queria mais esse caminho com tantas dores. Queria realmente viver minha vida. Decidi que queria mudar.


Ao ficar sabendo da Formação em Consultoria de Imagem, senti que era isso que deveria fazer e que, dessa forma, iria realmente transformar o mundo - Outra vez, Deus falando comigo.

Estudei, me dediquei e, em janeiro deste ano, me formei. Comecei o ano acreditando que eu realmente iria transformar as vidas das pessoas com isso. Tive tropeços, deslizes, precisei aprender muito mais coisas com maestria, buscar novamente formas de me reinventar, saber a direção, o rumo a tomar. Sempre busquei demonstrar gentilezas com todos, mesmo que não estivessem fazendo o mesmo comigo, não só esse ano, como na vida.


Tive alta da terapia, passei por mentoria e percebi que sempre fiz meu melhor em tudo, dentro das condições que eu tinha. Percebi também que tive o privilégio de tirar um ano praticamente sabático, especialmente para quem estava naquele nível de estresse, como eu vinha dos anos anteriores. Percebi que, talvez, Consultora de Imagem não é o que quero ser, não é o que eu nasci para ser. Percebi que tenho lugar para dar minha opinião. Percebi que posso ser quem eu nasci para ser, com todos os privilégios que Deus me concedeu. Percebi que sou grata a cada erro meu e cada um que já passou pelo meu caminho. Pedi perdão ao Pai se, em algum momento, te tratei com espinho, pois quero ser vista com carinho.

Percebi que essa viagem para o Peru, vem para ser esse divisor de águas na minha vida. Reencontro com os antepassados, com o sentido da vida, da escrita... Olhar o que precisa ser olhado, viver o que precisa ser vivido, abrir a mente, falar com gente diferente...

E Deus segue me orientando: "escreva, Minha filha, escreva. Coloque todo seu coração em suas palavras e sua fala. Eu sou Seu guia. Continue escrevendo e entregando beleza para o mundo e as pessoas. Elas precisam."


Percebi ainda que não vou agradar a todos e tudo bem. Que vou errar, mas sou humano também. E, falo isso, buscando melhorar, não para me vitimizar ou martirizar. Peço perdão de peito aberto a todos com que já errei, para que isso se transforme em amor, fé e esperança. 


Bons ou ruins, um dia, seremos apenas lembrança.


Já, eu, vou viajar e logo retorno com mais histórias para contar.

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